Senado cometerá injustiça histórica se rasgar Constituição para derrubar Dilma, diz Humberto

Humberto critica impeachment sem crime de responsabilidade. Foto: Beto Barata/Agência Senado
Humberto critica impeachment sem crime de responsabilidade. Foto: Beto Barata/Agência Senado

 
A fala do líder do Governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), contra a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado, na madrugada desta quinta-feira (12), foi uma das mais duras da sessão aberta desde às 9h30 da quarta-feira.
Em discurso feito por volta das 4h30, pouco antes da votação em plenário, o parlamentar declarou que o Senado cometerá um erro histórico irreparável se decidir derrubar a presidenta da República do poder porque estará fazendo o mesmo com a Constituição Federal, a democracia brasileira e todas as políticas exitosas dos Governos Lula e Dilma.
“O Senado estará derrubando o Brasil que deu certo e deixando vulnerável uma larga maioria de brasileiros aos quais essas políticas devolveram a dignidade”, afirmou.
Segundo Humberto, é uma farsa o crime de responsabilidade que tentam imputar a Dilma. “Isso é uma verdadeira quartelada civil. É imoral, ilegítima e ilegal”. Para o senador, um “acordo espúrio sustenta esse golpe” que vergará o Estado democrático de Direito e banalizará o impeachment como instrumento constitucional.
O parlamentar reiterou que Dilma é uma presidenta honesta, elogiada como tal, inclusive, por líderes da oposição como Fernando Henrique Cardoso, e não cometeu qualquer crime. “Ela está sendo acusada por um delito que não existe. Ela não pode responder por um crime que não aconteceu”, resumiu.
De acordo com o líder do Governo no Senado, Dilma agiu no estrito cumprimento das suas responsabilidades constitucionais e não há nada que macule o exercício das suas funções como chefe do Executivo e, tampouco, a sua honra, contra a qual nada, rigorosamente nada, pesa.
“Agora, como em 1964, o golpe se repete, mas de forma soft. Substituíram tanques e fuzis por contorcionismos legais e fraudes constitucionais. Estão substituindo a UDN e os militares pelo PMDB, o voto dos brasileiros de todos os cantos deste país por um acerto de gabinete operado no Palácio do Jaburu, a sede da conspiração, o balcão de feira da República”, disparou.
Humberto não tem a menor dúvida que o impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. “Podem travesti-lo de qualquer forma. Embalem na Constituição rasgada, embalem na bandeira nacional pisoteada, mas nada disso vai esconder o que essa farsa realmente é: um golpe”, ressaltou.
O senador reafirmou que a presidenta Dilma está sendo apeada do poder por conta de dois pontos absolutamente frágeis que constam na denúncia que tramita no Congresso Nacional: a edição de três decretos de créditos suplementares, que passou por diversas áreas técnicas do Governo e somam apenas R$ 980 milhões num universo de R$ 1,4 trilhão executado; e as chamadas pedaladas fiscais no Plano Safra, que representam atrasos de pagamentos – e não empréstimos – do Governo Federal ao Banco do Brasil.
“O Senado da República não pode perpetrar, em nome do Estado brasileiro, uma segunda injustiça contra essa mulher, que já sofreu violência na ditadura militar. E a História, novamente, vai colocar cada um no seu devido lugar”, observou.
Da tribuna, ele mostrou uma foto de Dilma, de 46 anos atrás, sendo submetida à “arbitrariedade de um tribunal de golpistas”. Humberto disse que a imagem é o retrato de uma mulher correta, honesta, honrada, que não havia cometido qualquer crime também naquela ocasião. “Apesar da atrocidade a que está sendo submetida, apesar de toda a tortura que lhe foi impingida, a cabeça dessa mulher está erguida, assim como hoje”, comentou.
Por fim, o parlamentar disse acreditar que os opositores irão vibrar e bater palmas com a aprovação do processo de impeachment da chefe do Executivo, mas que a alegria deles é diferente da verificada quando o PT chegou ao poder por meio do voto democrático nas urnas nas últimas quatro eleições.
“Estamos perdendo a batalha, mas voltaremos pela rampa da frente do Planalto para dar ao Brasil a continuidade do projeto inclusivo que ofereceu dignidade ao seu povo”, finalizou.