Aprovadas quebras de sigilo bancário, telefônico e fiscal da Delta e pessoas ligadas a Cachoeira


Pessoas físicas e jurídicas ligadas a Carlinhos Cachoeira terão os sigilos telefônico, bancário e fiscal quebrados, conforme decidiu a CPI mista que investiga a relação do contraventor goiano com agentes públicos e privados. Entre os atingidos pela medida estão o ex-diretor da Delta Construções, Cláudio Abreu; e Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ex-sargento da Aeronáutica preso pela operação Monte Carlo da Polícia Federal sob acusação de ser informante e braço direito de Cachoeira. A própria Delta teve o sigilo quebrado, porém apenas das filias em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Distrito Federal.
Ao todo, foram aprovados 36 requerimentos de quebra de sigilo e 51 para a realização de depoimentos. Além de Abreu e Dadá, Geovani Pereira da Silva, apontado como responsável pela movimentação de todo o dinheiro da organização chefiada por Cachoeira, também terá as informações bancárias, telefônicas e fiscais colocadas à disposição da CPI.
Entre as pessoas jurídicas que terão seus dados revelados estão a Brava Construções e a Alberto e Pantoja. Segundo a Polícia Federal, são empresas de fachada, criadas para receber dinheiro sujo da Delta, que têm o mesmo endereço: um prédio numa cidade-satélite de Brasília onde funciona uma oficina mecânica.
Convocações – A CPI terá muito trabalho pela frente para tomar os depoimentos de mais de 50 convocados. Os parlamentares pretendem ouvir, por exemplo, o ex-chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Cláudio Monteiro, que teria negociado propina para favorecer a Delta em contratos de prestação de serviços de recolhimento de lixo em Brasília e região.
Familiares de Carlos Cachoeira também não escaparam das convocações. A ex-mulher do bicheiro, Andréa Aprígio foi chamada; assim como o ex-cunhado, Adriano Aprígio; o sobrinho Leonardo Almeida Ramos; o pai, Sebastião de Almeida Ramos; e o irmão Marcos de Almeida Ramos. Vários dos convocados tiveram também pedido pela quebra de sigilo.

Delta – Boa parte das quase cinco horas da reunião foi dedicada à discussão sobre a quebra de sigilos referentes à Delta Construções. Inicialmente, o relator deputado Odair Cunha (PT-MG) propôs a quebra apenas das filiais da Delta nos estados de Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, o que provocou uma série de protestos de outros parlamentares, que defenderam a inclusão de filiais da Delta no Sudeste e Sul do país, bem como a convocação do ex-sócio da empresa, Fernando Cavendish.
Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) foram dois dos que reclamaram. Para eles, há indícios mais do que suficientes da atuação da Delta nacional em negócios criminosos chefiados por Carlos Cachoeira.
Após os debates, o requerimento foi aprovado, mas diante de ressalvas de vários parlamentares, que insistiram na necessidade de quebra de sigilo da matriz da construtora.
Após a polêmica votação, o relator propôs o adiamento da votação dos demais requerimentos para a próxima reunião administrativa, marcada para 5 de junho, sob novos protestos de Randolfe Rodrigues, que defendeu mais convocações. “Ficou patente a relação do governador de Goiás e de Sérgio Cabral com negócios de Cachoeira. Esta investigação é selecionada, sem ir ao fundo desta CPI. É um mau começo para este colegiado”, protestou Randolfe.
Segundo Pedro Taques, existem notícias de que a Delta já estaria dilapidando seu patrimônio, por isso o assunto não poderia ser deixado para 5 de junho. Já para o deputado Mauricio Quintella (PR-AL), o adiamento não quer dizer necessariamente que os demais requerimentos não serão votados.
Cronograma – A CPI volta a se reunir na terça-feira (22/5), quando será ouvido Carlinhos Cachoeira. Em seguida, em datas ainda não marcadas, serão ouvidos Gleyb Ferreira da Cuz, Lenine Araújo de Souza, José Olympio de Queiroga Neto e Idalberto Matias de Araújo.
Lista – A relação completa de documentos da CPMI e dos requerimentos apresentados e já votados até agora está na página do Senado na internet, no link: http://www.senado.gov.br/atividade/comissoes/comissao.asp?origem=CN&com=1589
Alguns dos pedidos de quebra de sigilo aprovados nesta semana:
* Ideal Segurança: empresa com sede em Goiás e usada para lavar dinheiro. Segundo a PF, pertence a Cahoeira e a um ex-delegado da Polícia Federal;
* Brazilian Gaming, empresa de Cachoeira apontada como de fachada e proprietária de outra empresa, também de fachada, a Larami Diversões;
* Vitapan Farmacêutica: laboratório de Cachoeira com sede em Anápolis. Por causa dele, Cachoeira e integrantes de sua quadrilha teriam feito lobby junto à Anvisa para obtenção de licenças e renovações de medicamentos;
* Brava Construções e Terraplenagem: considerada pelas investigações uma empresa de fachada, criada exclusivamente para receber dinheiro sujo da Delta;
* Alberto e Pantoja: A exemplo da Brava, também seria de fachada. Segundo a PF, têm o mesmo endereço: um prédio numa cidade-satélite de Brasília onde existe uma oficina mecânica;
* Bet Capital: empresa da qual Cachoeira é sócio, com sede no exterior, usada também para movimentação financeira ilegal fora do Brasil;
Alguns dos pedidos de convocação aprovados nesta semana:
* Giovani Pereira da Silva, contador de Cachoeira;
* Gleyb Ferreira da Cruz, acusado de ser ajudante próximo de Cachoeira, principalmente em relação a assuntos financeiros da quadrilha;
* Idalberto Matias de Araújo, sargento da reserva da Aeronáutica, acusado de espionagem e de alertar sobre operações contra o jogo e de cooptação de policiais;
* Andréa Aprígio de Souza, ex-mulher de Cachoeira e acusada de ser laranja do contraventor, escondendo recursos e patrimônio obtidos com os crimes;
* Roberto Copolla: argentino sócio da Larami Diversões, considerado laranja usado para interferir em licitações no Paraná;
* Vladimir Garcez Henrique: ex-vererador e ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, pego em escutas telefônicas e acusado de relações próximas com o contraventor;
* Rosalvo Cruz, outro suposto contador de Carlos Cachoeira;
* Benedito Torres: procurador-geral de Justiça de Goiás e irmão do senador Demóstenes Torres.
Fonte: Agência Senado.
Fotos: André Corrêa / Liderança do PT no Senado.