Aumento da violência contra mulheres no Brasil é aterrador, lamenta Humberto

Humberto alertou para a onda de violência sexista e racista em curso no país. Foto: Alessandro Dantas/ Liderança do PT no Senado
Humberto alertou para a onda de violência sexista e racista em curso no país. Foto: Alessandro Dantas/ Liderança do PT no Senado

Preocupado com o aumento “assustador” da violência contra as mulheres brasileiras em 10 anos, especialmente as negras, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), declarou nesta terça-feira (10) que os tristes dados evidenciam uma perversa combinação entre sexismo e racismo impregnada na sociedade brasileira. Os números foram revelados pelo Mapa da Violência 2015, produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
Autor de um projeto de lei que concede benefício eventual às mulheres vítimas de violência doméstica enquanto persistir a sua situação de vulnerabilidade, o parlamentar classifica como aterrador o fato de os homicídios contra as mulheres negras terem aumentado em mais de 50% entre 2003 e 2013.
“Chama a atenção o fato de esse avanço dos homicídios ocorrer, com mais virulência, justamente sobre uma das faixas populacionais mais vulneráveis da nossa sociedade”, disse, em discurso na tribuna do plenário do Senado. Enquanto de 2003 a 2013, houve uma alentadora queda de 9,8% na quantidade anual de homicídios de mulheres brancas, os assassinatos de mulheres negras subiram 54% no mesmo período. “É desolador observar que a elevação de mortes de negras em relação às brancas foi superior a 190% em 10 anos”, desabafou.
Ele também considera assustador o Brasil ocupar a quinta pior posição no ranking de violência contra a mulher entre 83 países avaliados na pesquisa. “A situação é estarrecedora. Todas as ações tomadas ao longo desse período, todas as discussões empreendidas nesses últimos dez anos não foram suficientemente eficazes para frear esse processo de dizimação das mulheres brasileiras que está em curso”, lamentou Humberto.
O senador avalia que não se trata de um assunto de governos ou de polícia, até porque metade das mortes violentas de mulheres é cometida por seus próprios familiares e 33%, por parceiros ou ex-parceiros. “Os agressores estão dentro de casa e, muitas vezes, dividem a mesma cama das vítimas”, comenta.
No entendimento do parlamentar, o tema precisa ser objeto de uma profunda reflexão de toda a sociedade. “Estamos falando de nossas mães, nossas irmãs, nossas filhas, nossas mulheres, enfim, que vêm sendo exterminadas diariamente. E isso é um tema que diz respeito a todos nós”, ressaltou.
Humberto atribui parte da responsabilidade dessa tragédia social à intensa pauta conservadora em curso no país. Para o líder do PT, esse movimento obscurantista e medieval avança, principalmente, na Câmara dos Deputados.
“É uma pauta que defende o armamento dos cidadãos, o encarceramento de menores e que reduz o papel da mulher na nossa sociedade, submetendo-a a leis de cunho notadamente machista, como a que humilha as vítimas de estupro com um atroz exame de corpo de delito para interromper a gravidez eventualmente havida da violência sexual”, afirmou, em referência à medida aprovada recentemente por comissão da Câmara dos Deputados.
Humberto disse esperar que o Senado não se transforme em um espaço de proliferação dessas ideias obscurantistas, racistas e machistas. “E digo mais, por mais que isso incomode uma meia dúzia de obscurantistas que também vemos na sociedade: há no Brasil um preconceito de gênero e raça que não condiz com aquilo que almejamos como projeto de país”.
O Mapa da Violência 2015 mostra que, de 1980 a 2013, mais de 106 mil mulheres foram assassinadas no país. Somente em 2013, foram quase cinco mil. São 4,8 homicídios registrados para cada 100 mil mulheres. “E se não fosse a Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, e a Lei do Feminicídio, sancionada este ano, a situação poderia ser bem pior”, acredita.