Jornal O Estado de S. Paulo dedica editorial à queda da mortalidade infantil

Queda da mortalidade infantil
O Brasil reduziu em 73% o número de mortes de crianças de até 5 anos nas últimas duas décadas, conforme dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O País se classificou em quarto lugar no ranking das nações que mais evoluíram na prevenção de doenças infantis, atrás da Turquia, do Peru e de El Salvador. A média global de redução da taxa de mortalidade infantil foi de 40%. Em 1990, a taxa brasileira era de 58 mortes por mil crianças na faixa de 0 a 5 anos. No ano passado, foram registradas 16 por mil nessa faixa etária. Com uma antecipação de quatro anos, o Brasil conseguiu atingir a meta estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
O feito levou o governo brasileiro a assinar, há dias, o Relatório de Progresso 2012, intitulado Compromisso com a sobrevivência da criança: uma promessa renovada, um acordo proposto pelo Unicef, em que o País se compromete a, por meio do intercâmbio de informações e troca de experiências, auxiliar outras nações que hoje enfrentam dificuldades para baixar a taxa de mortalidade infantil. Dados divulgados pelo Grupo Interinstitucional de Estimativas sobre Mortalidade Infantil da ONU mostram que o número de crianças menores de 5 anos que morreram em todo o mundo caiu de 12 milhões, em 1990, para 6,9 milhões, em 2011.
Há de se reconhecer o esforço do governo nos últimos anos. O Ministério da Saúde investiu R$ 3,3 bilhões na Rede Cegonha, um programa que visa a ampliar o acesso e a melhorar a qualidade do pré-natal, com atendimento médico nos 24 primeiros meses de vida do bebê. A taxa de aleitamento materno também registrou elevação: entre 1999 e 2008, o tempo médio de aleitamento aumentou em um mês e meio. A prevenção de doenças por meio das campanhas de vacinação colaborou significativamente para o desempenho do País. Em 2006, houve um grande avanço com a inclusão da vacina de Rotavírus Humano (VORH) no calendário de vacinação; hoje, 87% das crianças estão imunizadas. Há dois anos, as vacinas pneumocócica 10 e meningocócica C também foram incluídas no calendário.
Apesar desses progressos, ainda há um longo caminho a percorrer. O mesmo relatório que reconhece o esforço do governo brasileiro revela que o País está em posição desconfortável (107.ª) no ranking mundial. Cingapura, Eslovênia, Suécia e Finlândia são os líderes, com menos de 3 mortes por mil crianças.
O Brasil ainda perde muitos bebês por causa de problemas ocorridos no pós-parto. O levantamento do Unicef revela um elevado número de óbitos de crianças em decorrência de doenças como diarreia e pneumonia, além de outros males sem definição específica.
Em novembro, o IBGE registrou em seu website, no banco de dados Sidra, a morte de mais de 35 mil bebês com menos de 1 ano, entre agosto de 2009 e julho de 2010. Esse número representa 3,4% do total de 1,034 milhão de óbitos do País no período. A assistência à saúde da mãe durante a gravidez e o acompanhamento permanente nos primeiros anos de vida da criança ainda estão longe de ser garantias universais, principalmente nas regiões mais carentes. Áreas pobres do Norte são as que mais sofrem com a perda de bebês. Nas décadas de 80 e 90, os bebês morriam vítimas de doenças infectocontagiosas, como diarreia e desidratação. Atualmente, problemas com a gravidez, com o parto e doenças congênitas são as principais causas de mortes.
Os maiores investimentos devem ser feitos para assegurar que a rede pública de saúde seja capaz de prestar um bom atendimento nesses casos. Nas áreas rurais e nas cidades mais pobres das Regiões Norte e Nordeste, os médicos não chegam, ou chegam em número muito menor do que o necessário e, muitas vezes, despreparados. Além disso, não contam com estrutura hospitalar adequada, principalmente para atender bebês prematuros.
O Brasil avançou bastante, sem dúvida, mas não pode se contentar com isso. Precisa agora buscar posição ainda melhor no ranking mundial.
Fonte: edição do O Estado de S. Paulo de 1º de outubro de 2012