Samu: muitas histórias para contar e vidas para salvar todos os dias

O dia a dia da enfermeira Lisandra Rodrigues, plantonista do Samu nas ruas da Região Metropolitana do Recife, foi tema de reportagem da revista Aurora, do Diario de Pernambuco, no último fim de semana. O texto da repórter Lenne Ferreira conta um pouco das situações e emoções vivenciadas a cada plantão na UTI móvel. O Samu, um dos projetos do governo federal mais bem avaliados no País, foi criado pelo senador Humberto Costa em 2001, quando este era secretário de Saúde da Prefeitura do Recife. Conheça abaixo um pouco da história de Lisandra e a rotina destes profissionais, que salvam milhares de vidas em todo o País com atendimento de urgência rápido e eficiente.

Rotina do inesperado

Duas vezes por semana, a enfermeira Lisandra Rodrigues vira a noite como plantonista do Samu. Nunca sabe o que vai encontrar pela frente. Muitas vezes volta para casa destruída. Mas reafirma sua escolha a cada dia
Mesmo dormindo, Lisandra Rodrigues, 35 anos, escuta o som da sirene da ambulância. Há quatro anos a enfermeira atua como plantonista do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu 192). Implantado pelo Ministério da Saúde em 2003, o serviço possui três centrais em Pernambuco: no Recife, em Caruaru e em Petrolina. Atende 40 municípios, além de Fernando de Noronha, prestando atendimento pré-hospitalar – ocorrências clínicas, obstétricas, psiquiátricas, de traumas e remoções. Cada equipe da UTI é formada por condutor, enfermeira e médico. Nas unidades básicas, condutor e técnico de enfermagem. Lisandra está lotada na Central Metropolitana do Recife, que abrange a capital, Fernando de Noronha e 16 municípios da RMR.
Formada há 11 anos, a enfermeira diz que ratifica a escolha que fez a cada atendimento bem sucedido. “Sou muito mais feliz no Samu do que em qualquer outro lugar onde já trabalhei”. A gratidão dos pacientes vem em forma de cartas, mensagens e ligações carinhosas. A profissão, no entanto, também desperta reprovação e revolta. “Quando demoramos a chegar, as pessoas xingam e até tentam nos agredir”. Sem falar nos casos em que a equipe é que precisa de socorro, como no episódio em que Lisandra e seus colegas ficaram presos no meio de um tiroteio, no Zona Norte do Recife.
Tem dia que a tensão é tanta que a enfermeira sai do plantão destruída. “O sangue não me assusta mais do que as questões sociais com as quais nos deparamos”. O olhar da adolescente de 17 anos, viciada em crack e na quarta gestação, até hoje a encara. O rosto assustado de uma mãe que carregava a filha no colo no momento em que o veículo colidiu, deixando-as presas nas ferragens, também ficou na memória. “A mulher ainda arquejava”, As duas faleceram no local. O drama é ainda maior quando o paciente é conhecido. Recentemente, uma colega do plantão foi acionada para atender uma ocorrência e, ao chegar ao local, descobriu que a vítima, baleada, era o próprio filho. Para manter o equilíbrio diante de situações-limite como essa, Lisandra recorre ao espiritismo.
Com dois plantões noturnos semanais (das 19h às 7h) e mais as atividades que desempenham na Unidade de Saúde da Família (USF) localizada no bairro do Arruda, a enfermeira às vezes cumpre uma jornada de trabalho equivalente a 36 horas. É necessário pique, compromisso e dedicação, ela enumera, “Precisamos de uma política pública que cuide de nossa saúde mental”, reivindica. A pedido da Aurora, Lisandra descreveu quatro plantões vivenciados em março. A sensação é uma só quando veste o macacão azul: “Me sinto como se estivesse com uma armadura de superherói”. E não importa o quão longe esteja da ambulância, a sirene nunca para de soar.
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Fonte: por Lenne Ferreira, da revista Aurora, do Diario de Pernambuco.
Foto: Bernardo Dantas/DP/D.A. Press.