"Se alguém pensa que vai destruir o PT, não vai"

Entrevista publicada na edição deste domingo, dia 06/10 (CLIQUE AQUI PARA LER SEGUNDO TRECHO).
O Jornal do Commercio encontrou o senador Humberto Costa (PT) no dia em que Isaltino Nascimento era confirmado como o mais novo socialista. A maior liderança petista no Estado revela: “É o maior ataque político que o PT já sofreu em toda a sua história em PE”. No vaivém do discurso, ele trata o PSB de Eduardo Campos ora por adversário, ora por aliado. E aposta na união dos “verdadeiros petistas” para evocar um grito de independência.
JORNAL DO COMMERCIO – A semana que passou revelou um assédio marcante do PSB a quadros do PT, que terminou com a saída de Isaltino Nascimento, Lauro Gusmão e André Campos. Como o PT se posiciona diante dessa investida?
HUMBERTO COSTA – Entendo que o PT está sendo vítima do maior ataque político que já sofreu em toda a sua história em Pernambuco. Quando o PT se formou aqui, diziam que o PT não ia se consolidar porque não era muito forte. No entanto, com menos de 20 anos de existência, o PT ganhou a Prefeitura do Recife, abriu espaço para que a esquerda retomasse o poder no Estado, a partir de 2006, com a eleição de Eduardo. Então, vejo que não há o porquê disso ser feito contra o PT, que sempre foi adepto das aliança políticas, absolutamente fiel e leal à Frente Popular. Não consigo entender porque partidos integrantes da Frente tentam enfraquecer o PT nesse momento, procurando assediar lideranças políticas importantes.
JC – É uma tentativa de esvaziar o palanque do PT para 2014?
HUMBERTO – Não sei quem é que ganha com isso. Até porque acho que se alguém pensa que vai destruir o PT com esse tipo de ação, não vai. O PT de Pernambuco tem história, compromisso, tem bases sociais.
JC – Mas o PT vinha de um processo de enfraquecimento desde a eleição passada…
HUMBERTO – Somos aliados da Frente, do PSB. Isso vale para os momentos em que o PSB esteja forte, ou que possa estar temporariamente enfraquecido. Quando se especulava a ida do ex-ministro da Integração Fernando Bezerra Coelho ao PT, tive a oportunidade de dizer que o partido não faz assédio a aliados políticos, a membros de partidos que são nossos aliados. Até porque considero que isso não é uma forma de tratar um aliado. Independente de o PT estar passando por alguma dificuldade, não justifica uma tentativa de enfraquecê-lo ainda mais.
JC – O que o PT deve fazer?
HUMBERTO – Acho que o PT agora precisa tomar uma atitude partidária. O PED é importante, as divergências partidárias são importantes. Mas o mais importante é defender o patrimônio que é o PT. Acho que devemos secundarizar esse PED, juntar os verdadeiros petistas, gente como João Paulo, Pedro Eugênio, Bruno Ribeiro, Fernando Ferro, Teresa Leitão e tantos outros, para que os verdadeiros petistas se unam para resistir a essa tentativa de destruição do nosso partido aqui no Estado. Temos que sentar, fazer um pacto político e dentro desse pacto, incluirmos a necessidade de o PT ser preservado.
JC – Quem são os petistas não verdadeiros? Os que estão mais próximos do PSB?
HUMBERTO – Não quero fazer nenhum julgamento, nem incluir nem excluir quem quer que seja. Acho que todos aqueles que acham que é importante ter um palanque forte para a presidente Dilma no nosso Estado deve se unir, independente do que tenha acontecido no passado.
JC – Agora, depois de constatar essa ofensiva, o PT estaria correndo atrás do prejuízo?
HUMBERTO – O fato de nós termos errado muito até agora, não significa que nós continuemos errado. Acho que devemos pensar daqui pra frente. Pernambuco só é o que é hoje pelas ações do governo Lula, Dilma, na parceria com o governo Eduardo. Não queremos acabar com essa parceria, queremos continuar juntos, queremos ter o apoio do PSB para a candidatura de Dilma. Mas não fomos nós que puxamos esse rompimento, esse afastamento. É lógico que os projetos pessoais são legítimos, mas eles não podem se sobrepor ao interesse da nação, de Pernambuco. Então, o PT agora precisa parar de errar, e parar de errar é procurar encontrar um caminho comum para resistir a esse ataque político que está sendo feito contra o nosso partido e contra o nosso ideário.
JC – O PT teve a oportunidade de demarcar independência em relação ao PSB local, quando eles decidiram sair do governo federal. No final, não entregou os cargos, sob orientação da direção nacional.
HUMBERTO – O PT nacional em nenhum momento disse que nós deveríamos ficar ou sair. Houve um apelo que foi feito pelo presidente Rui Falcão, no sentindo de não nos precipitarmos numa posição de rompimento, quando não está claro qual seria o posicionamento do PSB. Digo com toda a tranquilidade que nesse momento essa discussão está superada. O PT vai discutir e devolver que cargos? O PT é que está sendo retirado da Frente Popular, o PT é que está sendo expelido do governo. Acho que não temos mais o que discutir, o PT agora tem que fazer um movimento na defesa do seu legado e do projeto de Lula e Dilma de Pernambuco.
JC – Deve entregar os cargos que ainda têm?
HUMBERTO – Estamos sendo jogados para fora do governo. Quando discutimos a possibilidade de entregar os cargos eu defendi essa postura. Até como reciprocidade. Não pensamos em construir bloco de oposição. O que o PT vai fazer depende exatamente de como vai ser tratado. Se for tratado com respeito, consideração, entendendo que é um partido relevante para a governabilidade aqui no Estado, devemos continuar aliados. Até porque ajudamos a construir esse governo. Desafio quem quer que seja a encontrar uma posição do PT de Pernambuco de deslealdade com a Frente ou com Eduardo. Agora, se continuarmos sendo tratados como estamos sendo, não como aliados, mas como adversários, temos que discutir o que os vamos fazer.
JC – Como vê a saída de Isaltino?
HUMBERTO – É parte de uma legislação imperfeita que permite que haja essas mudanças de partido, que não exista a fidelidade partidária. As pessoas podem ter seus projetos pessoais, temos que respeitar. Espero que ele tenha tomado essa decisão levando tudo isso em consideração. É um companheiro que respeitamos, mas quem vai julgar se a atitude dele foi correta são as pessoas que estão ao lado dele, que votaram nele.
JC – E Maurício Rands, que disse ter abandonado a política, e se filia ao PSB…
HUMBERTO – Isso é um assunto da economia interna do PSB. Não diz respeito ao PT.
JC – Ao JC, Fernando Bezerra Coelho disse que o PSB saiu do governo Dilma Rousseff estimulado por censura e pressão do PT.
HUMBERTO – O PT tem trabalhado para preservar essa relação com o PSB. Ao contrário, nosso governo e nossa presidente foram muitas vezes criticados e censurados de forma muito dura. Em nenhum momento esboçamos qualquer tipo de reação. Tivemos a paciência de tentar construir essa unidade, vamos continuar tentando. O (ex) presidente Lula sempre falou em manter o PSB no governo, Dilma também, o ex-ministro teve absoluta autonomia para realizar as ações. Como é que o PT estaria querendo promover rompimento? Acho que essa interpretação está errada.
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Fonte: Jornal do Commercio, edição de domingo – dia 06/10/13.