Senado entra para história triste ao enterrar 54 milhões de votos, diz Humberto

Humberto discursa contra impeachment de Dilma em sessão final do Senado. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Humberto discursa contra impeachment de Dilma em sessão final do Senado. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

 
O Senado Federal entrou nesta quarta-feira, 31 de agosto de 2016, para as páginas tristes da história democrática do país ao aprovar o impeachment de Dilma Rousseff. A avaliação, feita pelo líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE), é de que os 61 votos dados pelos parlamentares para o afastamento da presidenta vão diretamente contra os mais de 54 milhões de votos conquistados nas urnas nas eleições de 2014. “Votada por 54 milhões; destituída por 61 votos”, criticou.
“Nós, as próximas gerações e o Brasil pagaremos muito caro por essa diminuição da nossa democracia. Lutamos como pudemos para evitar que essa aberração prosperasse. Mas venceu o fisiologismo, o acordão, o baixo nível político, o golpe”, resumiu Humberto. Vinte senadores votaram contra o impeachment.
Segundo ele, retirar uma presidenta eleita pela maioria dos brasileiros do poder sem crime de responsabilidade é um erro grave, condenado, inclusive, pelo mundo, que traz por meio da imprensa a sua visão crítica em relação ao processo contra Dilma.
“Abrimos um precedente perigosíssimo para futuros presidentes, governadores e prefeitos: a punição sem o cometimento do crime. Rasgamos a Constituição Federal e nossos opositores não se dão conta de que como abalará o país para sempre”, disse.
Ele acredita que o Senado envergonhou a nação e a população brasileira e que o país se apequenou nesta quarta-feira. “Estamos lançando o Brasil à insegurança e ao caos, uma situação extremamente preocupante que não será superada por esse governo golpista que não tem a legitimidade do voto”, declarou. O senador disse que esperava que o “bom caráter” prevalecesse entre os colegas da Casa.
“Nos últimos 80 anos, tivemos 18 presidentes da República. Somente oito foram eleitos. Deles, três não concluíram o mandato. Infelizmente, Dilma foi a quarta chefe do Executivo afastada do cargo”, lamentou.
Direitos políticos
Humberto ressaltou que os senadores, pelo menos, mantiveram os direitos políticos da presidenta. Em votação após a definição do impeachment, garantida a partir de uma sugestão dos aliados de Dilma acatada pelo presidente da sessão, ministro Ricardo Lewandowski, os parlamentares tomaram a decisão.
Foram 42 votos a favor da inabilitação política e 36 contra. Eram necessários 54 votos para impedir que Dilma assumir qualquer cargo público por oito anos. “Agindo mais uma vez contra a letra das normais do país, eles tentaram impedir a presidenta de ter os seus direitos políticos. Perderam”.
O parlamentar ressaltou ainda que, desde o começo do processo contra a petista, a defesa da presidenta deixou claro que ela não cometeu crime de responsabilidade e, portanto, não deveria sofrer impeachment.
“A questão das pedaladas fiscais e da edição de decretos suplementares sem autorização do Congresso Nacional sempre foram um pretexto. Mostramos que não houve crime por parte da presidenta nas duas questões objeto da denúncia. Porém, não adiantou argumentar. Eles já tinham escolhido ‘a criminosa’”, concluiu.